segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Passageiro do Templo do Tempo


Tudo se vai, como se nunca tivesse pertencido a nada nem a ninguém. Deus é uma metamorfose do melhor que se poderá obter, da forma como lá chegar. A maresia é preste; a desgraça assente a terras inalcançáveis ao sobrolho daqueles que pensam lá chegar de antecipação. Acena uma voz, murmúrio da vaga ideia da despedida.
E essa voz, de tão robusta e feliz contemplação, vai-se. Uma boa imagem, má de partida. Sem pretensões de regresso. Sonhos são labaredas acesas, que apagam quando o lume já não lhe chega; e quando deixar de chegar, e quando a luz se apagar, onde ficarão os desertos e os oceanos, senão difundidos no universo perdido do tempo, sem lugar onde ficar, sem lugar a alcançar? Perdidos, assim somos nós, raízes de plantas rápidas da terra. A simplicidade vale por tudo na sua felicidade mais audaz, mas simples, mais real. Pura divagação alucinada ao sabor do vento, à luz do mar.
E sopra a direcção a tomar esse vento, que ninguém conhece mas todos contemplam. E todos o observam, como se dessa miragem adviesse alguma parte do que se pretende. Os sonhos são para ser tomados, mais cedo ou mais tarde. Ninguém floresce e aterra pronto para isso; para a partida do que se quer para o mais além, para onde ninguém chega, pelo menos em tempo determinado. Mas daí se descobre uma nova vertente fidedigna de nós mesmos; uma determinação tão abatida, mas viva, que desenvolvida nos pode levar onde queremos chegar. Até ao vento, até ao homem, vulto, imagem que se reflecte na sombra e continua a acenar. Desta vez despede-se sem perdão, sem regresso.
Mas o vento é apenas isso. Vento é vento. E nenhuma maresia preste acabará com isso, com a mesma facilidade do desdobramento da morte em mil vertentes, ponteiro ligado onde se pretende chegar.

Joel Anjos
Fotografia de Pedro Soares